segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Testemunho do Grande "Marcovic"

Esta semana, em vez de uma Entrevista, publicamos aqui no "Futsal FDL" a história da passagem de alguém que foi (e ainda é) um dos grandes marcos da nossa equipa. Começou a comandar a equipa desde Março de 2001/2002 até ao final da época 2005/2006. Já não foi meu treinador, mas sempre o considerei alguém importante, nem que seja pelo facto que na época passada esteve a apoiar-nos todos os jogos com a mesma garra como quando orientava a equipa. Fica aqui o testemunho de Marco Baptista, o Grande Marcovic.

Estávamos em Março de 2002, quando o grande mentor do futsal – o meu mestre - Carlos Jorge Amorim, mais conhecido por Cajó me comunicou que iria abandonar o comando técnico da equipa e que queria que eu o substituísse. Falou então com o vogal do desporto da AAFDL na altura, Bruno Alves (Benfica) e assim surgiu o convite para treinar a equipa de Futsal da FDL. É a estes dois homens que presto a minha homenagem por me terem dado a oportunidade de treinar uma equipa única.

O ano de estreia foi quase para esquecer, a época já estava a acabar e não havia muito a fazer. Na época anterior tinham abandonado a equipa alguns dos principais jogadores e a época era de transição, aproveitei para começar a fazer alguns contactos com o objectivo de reforçar a equipa.

Em 2002/2003, apareceu um grupo de amigos (Alma, Karel, Castro e Celso) que me ajudou a dar a volta à equipa. Mesmo assim foi um ano muito complicado, a equipa era muito pouco experiente. Quando se fala que os treinadores precisam de tempo é capaz de ser mesmo verdade, porque na 1ª época e meia que fiz os resultados foram uma tristeza e bem que podia ter sido alvo de uma chicotada psicológica…

Durante este período o grupo interiorizou as duas únicas regras que impus ao logo dos anos:

- Quem tivesse alguma coisa a apontar-me teria que o que fazer directamente. Nunca fui senhor da razão muitas vezes errei e quando os meus jogadores acharam que eu errei só tinham que me dizer, até porque muitas vezes eles tinham razão e só assim eu pude crescer.
- Todos estavam impedidos de dizer mal uns dos outros nas costas, o que exijo para mim exijo para os outros.

Em 2003/2004, estava na hora de darmos a volta por cima estávamos preparados para ganhar. O grupo estava forte e unido, dentro do campo a equipa tinha um senhor capitão, o meu capitão, Bruno Monteiro que pegou na equipa, chamando a si as maiores responsabilidades, deu tranquilidade aos companheiros e arrancou para uma época verdadeiramente de sonho… e depois dos golos decisivos sempre um abraço ao treinador que jamais posso esquecer. Nessa época resolvi fazer alterações radicais, o Castro passou de pivot a fixo o Karel de fixo a pivot. Como os meus conhecimentos técnicos não davam para muito mais o segredo da equipa só podia ser a sua união, o seu coração, o espírito de sacrifício. A força da equipa começava na sua defesa, Castro ou Celso foram insuperáveis e Monteiro auxiliou-os quando foi preciso, e depois todos sabíamos que tínhamos aquele guarda-redes que nos dava vitórias.

Chegamos ao final da 1ª fase só com uma derrota, contra uma super equipa do ISCTE, num jogo onde mais uma vez fui expulso (quantas vezes terei sido expulso alguém sabe?) e onde mais uma vez jogámos no pavilhão e perdemos. Chega a nossa primeira viagem e a primeira dor de cabeça a sério a convocatória para a Bélgica. Nessa altura não podia olha só para o potencial dos jogadores, quem está comigo, quem dá tudo por mim eu nunca o abandonarei até à hora da morte… o Alves tinha que ser o 1.º da lista e com ele outros homens de mística, mesmo que os seus dotes futebolísticos não fossem os melhores não os trocava por um Ronaldinho.

Mas foi nessa convocatória que cometo o maior erro que cometi enquanto treinador, a não convocatória do Manu (é verdade que acabou por ser possível convocá-lo, mas foi na véspera da partida e já não deu para ele ir). Só podia estar distraído, o Manu tinha chegado mais tarde que outros à equipa, é verdade, não se impunha futebolisticamente e era reservado, também é verdade, e terá sido por isso que… passou-me, que falha…trocava uma subida de divisão (que não aconteceu) para poder corrigir este erro. Bem sei que o Manu me perdoou, não tivesse ele o maior coração que conheço, mas eu é que não me posso perdoar, porque a viagem à Bélgica ficou mais pobre porque o grupo ficou mais pobre, porque dos que sempre me acompanharam foi o único que eu um dia abandonei… Mais uma vez desculpa amigo!

Na Bélgica o objectivo era curtir… íamos jogar Futebol e não Futsal, não podíamos querer ganhar mais do que um jogo… Mas logo cedo abrimos o livro fora do campo, o Castro e a Cuica, o Monteiro e o saco cama do Zé Costa. Dentro do campo, apesar da minha inoperância como extremo, nem sequer consegui ultrapassar uma gaja que me roubou todas as bolas acabámos por ter sucesso. Ganhámos aos romenos e aos palhaços dos holandeses.

Para a história fica o fortalecimento do espírito de grupo - o Celso que partiu o pé, ou coisa parecida, e obriguei-a jogar até ao fim, acabou por fazer o penalty que nos fez perder o jogo e chorar de dor e desespero - o momento em que chamei o Alves para aquecer e o gajo estava a dormir no banco - a expulsão mais linda da história, a do Alves por pontapear a bola para longe (para quem não sabe foram dois cortes dentro do campo, em tempo de jogo, mas como a bola foi para longe aquele atrasado entendeu que era falta de fair-play e expulsou o rapaz e logo quando eu lhe tinha dado a possibilidade de jogar mais de 5 minutos) e depois lá fiz eu figuras para variar… a correr descalço atrás do árbitro… e mais um expulsão.

Voltámos da Bélgica rijos e continuámos a lutar até ao fim. No jogo decisivo ganhávamos 3-1 à Lusíada e o palhaço do Marçal expulsa quem estava a fazer a diferença, o nosso desequilibrador, o nosso Pauleta… sofremos dois golos perto do fim e com o empate caímos e acabou o sonho….Ainda assim uma grande época!

2004-2005 – Ficámos sem o Alma, o Monteiro, o Alves e o Castro, todos a distribuir em Coritiba… Mas nós por cá não desistimos, regressou o aleijado, Marinho da Terra do Pão e com a classe que se lhe reconhece pegou na equipa, o Celso fez-se o jogador que vocês conhecem, o Karel assumiu a braçadeira, o Pauleta deu cartas e surgiu o Domingol, até que o Marinho se lesionou outra vez, o Karel ficou doente e não deu para mais, lutámos é verdade, mas outros foram mais fortes.

Chega a hora de Eindhoven, mas como a época era de azar o Alma lesiona-se no 1.º jogo e o melhor mesmo era sacudir a pressão e rodar a equipa e assim foi, todos jogaram e todos alombámos.. até eu joguei ou melhor fingi… Para a história aquele momento único, estava eu na casa de banho do Mac Donalds e é golo do Luisão, somos campeões, a noite foi nossa, foi toda nossa (obrigado aos sportinguistas pelo desportivismo).

Voltamos a Lisboa e fizemos um Torneio do Rato (TUL) de sonho, caímos na meia final contra os campeões, Informática, se calhar no nosso melhor jogo ao longo destes anos, o azar impediu-nos de chegar à final.

2005-2006 – Já tinha definido, depois de um Verão quente, era a minha última época, o tudo ou nada, a última oportunidade. A época começa mal porque não consigo convencer o meu capitão a continuar a liderar a equipa. Mas desde cedo percebo que era a minha última oportunidade mas também a última oportunidade daqueles que sempre me acompanharam. Para que tudo corra melhor chegam reforços caloiros, Carlão, Heliozico, Xinho (Tiago Rosado) e Pedro, temos sangue novo.

Para que o último ano corra em beleza, percebo que tenho em mãos um diamante, o maior diamante que me passou pelas mãos o Pedro, o geniozinho. Já conhecia o Pedro desde os 14 anos, ele ia treinar com a irmã, mas nunca me apercebi do que ali estava. O Puto pegou na equipa e transformou o nosso futebol, sempre defensivo, num futebol imprevisível e cheio de brilhantismo, finalmente o Pauleta tinha companhia na frente, finalmente tínhamos dois para desequilibrar, o nosso futebol tinha asas.. Grande Alma na baliza, super Celso, equilíbrio chamado Karel, Pedro, perfume de Pauleta, golos de Domigol e vitória atrás de vitória!

Chega Eindhoven, a equipa está mais confiante que nunca e quer ganhar o torneio, mais uma vez a mesma receita, começam as vitórias, uma defesa sublime que não sofre golos e só caímos com um grande roubo e mesmo assim nos penaltys contra os sérvios.

Na Holanda, o convívio com o Carlão (o coração desta nova geração, um homem aos 19 anos como poucos conheci, corajoso, amigo); o Xinho (o novo angariador de jogadores para a equipa o homem que defende a imagem da equipa na faculdade); o Heliozico (o novo Celso); o Areias (o novo Alves) e o Pedro (a classe dentro do campo), fizeram-me perceber que estava na hora, os que sempre me acompanharam (quase todos) não podiam continuar a jogar e teria que existir uma renovação e não devia ser eu a fazê-la. Era hora de um dos meus ter a oportunidade que eu um dia tive.

Mas antes da transição ainda existia trabalho a fazer em Lisboa, a equipa queria subir! Todos confiavam em mim, sabia que podia escolher quem quisesse e que teria o apoio de todos, enfim todos queríamos o mesmo e todos confiávamos uns nos outros. Chegou a hora, vencemos o ISCTE por um golo de diferença e falhamos duas ou três oportunidades. No dia seguinte, o IGT e fizemos mais um grande jogo contra uma grande equipa, falhámos um golo de baliza aberta e na jogada seguinte sofremos um golo, um auto-golo.
Dentro do campo foi sempre assim.. uma história de azar, fora do campo mais do que uma equipa fomos e somos uma família e essa foi a nossa grande vitória!

3 comentários:

Anónimo disse...

Se conseguirmos subir este ano, essa conquista também será tua como sabes. Nunca fui treinado por ti, mas o que ouvi da tua capacidade de liderança foi sempre o melhor. Continua a ir ver os nossos jogos como no ano passado pois isso da-nos uma força incrivel. Abraço

Anónimo disse...

Não poderia deixar de comentar este testemunho que inevitavelmente me toca... Não me quero alongar muito. Apenas quero dizer que recordar tudo isto me traz as láfrimas aos olhos... mais do que um enorme treinador, o Marcovic foi para mim um mestre de como devemos encarar a vida. Junto dele, todas as adversidades se tornavam e tornam menores. Mais do que qualquer objectivo desportivo, conseguimos fazer amigos para a vida. Exemplo disso mesmo é a força que conseguimos passar para a geração seguinte. Quanto aos objectivos desportivos, o autogolo foi meu e lembro-me desse momento como se fosse hoje. Foi um sonho de anos que caiu por terra naquele minuto já perto do fim do jogo... e pior que tudo, foi um sonho não só meu, mas também daqueles com quem lutei e luto sempre lado a lado... é um momento que não mais esquecerei... nessa noite, da tristeza fizemos festa e acabámos, inevitavelmente, bem bebidos, abraçados e mais fortes que nunca... há laços tão fortes, que nada os destrói...

Grande Abraço a todos

J9 disse...

Grande Marcovic... Mais que um treinador, um amigo, um irmão. Tiveste o mérito de unir várias personalidades, num conjunto, dávamos tudo uns pelos outros dentro e fora de campo.. como um dia foi dito "mais que uma equipa, uma família". Foste sem duvida uma pessoa que marcou a história do futsal ! Um forte abraço do Alves